sábado, 13 de junho de 2009

Memórias de alfabetização



Caçula de quatro... olhar atento e ouvido afinado nas Estórias de "Ali Babá e os quarenta ladrões "; “Joãozinho e o pé de feijão ” ; livros estes que só podiam ser folheados pela irmã primogênita , que trazia em sua expressão um ar de importante autoridade ; esta nos mostrava com certa distância para que as folhas brilhantes de alta gramatura não fossem tocadas . Ali Babá pouco me cativou. Além da frase ''Abre-te Sésamo!'' que passou a fazer parte das minhas brincadeiras de faz de conta; as ilustrações que se amontoavam entre elas eram interessantes. Mas Joãozinho era encantador; admirava aquele menino de olhos azuis, seus olhos eram tão envolventes que sempre achei que estavam me olhando . Como a Emília de Monteiro Lobato aquele menino foi apresentado pelo ilustrador feito de pano... embora a estória não contasse este segredo , mas eu percebi. Compreendia verdadeiramente a vida de Joãozinho e passei a acompanhar de perto a germinações dos grãos de feijões. Ouvi as mesmas estórias durante anos de minha infância ; era este o acervo disponível..ah !! Claro!!!Não poderia esquecer-me dos lindos livros encorpados, volumosos com letras douradas na capa, estes enfeitavam a velha estante de madeira; meu pai chamava-os de enciclopédias. Eu nem imaginava quais estórias que poderiam ter ali; muito menos quais poderiam ser as figuras guardadas com tanto zelo. Porém ,quando dava “pulinhos” para o meu olhar alcançá-los na estante ; ouvia sempre uma voz que dizia : _“São chatos ; não são para crianças” E assim entendi que se eram de adultos deviam ser chatos mesmo.Cabelos curtos , roupas novas, lancheira ;seis anos completei ; receiei que algo de novo poderia acontecer ; chorei ...muitas lágrimas derramei .O nome era Wilma , eu já havia ouvido falar em bruxas que maltratavam criançinhas , mas será?.Professora que detestava crianças que falavam e que faziam xixi na calça. O que ela gostava? Pelo que eu percebi somente da “Luci”. Luci era sobrinha de uma das professoras da escola e filha de um comerciante local; era bonita; seus cabelos brilhavam muito; seu uniforme sempre cheiroso, passado e novo, devia ter uns três iguais aquele. Muito tempo se passou ; dois anos que em contagem de criança era uma eternidade...ler e escrever era o que se esperava , a cartilha “caminho suave” já estava amassada de tantas tentativas de acertos ,marcadas com borrões feitas com miolo de pão.Porém , o que diziam era que eu nada sabia.A Fada chama-se Lilian Rocha Domingues ; olhar sereno ; voz tranquila ; de mim nada cobrava , apenas elogiava detalhes que ninguem via ...aos poucos construi palavras que traduziam conceitos e emoções ...fadas existem!!! eu tinha toda certeza disso...fadas que transformam crianças em ser pensantes , criativos e capazes de transformar e contar a sua própria história. Varas de condão? Não!!afeto ...apenas .( Márcia Regina Figueira/ 2004)

3 comentários:

  1. Migaaaaa.... Escondendo o ouro, né???
    Belíssimo!
    Traduzir em palavras nossa vivência é expressar nossos sentimentos, nossas emoções e abrirmos o canal da criatividade literária latente em nossa alma!
    Grabdeijo!
    Tá lindooooo o seu blog!

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  2. Fantásssssssssssssticooooo seu texto amiga!!!
    Já conhecia o seu bom gosto, criatividade e originalidade, mas aqui você se superou...
    Ficou lindo!!!
    Parabéns
    Bjs

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  3. Débora Figueira

    Má adorei seu texto , parabéns cunhada querida por ser essa pessoa maravilhosa e uma profissional que busca sempre aperfeiçoamento na sua área .
    Te adoro
    Parabéns

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